7.4.11

Poema de Cora Coralina


Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.



Cora Coralina  (Outubro, 1981)

vinte e nove...

29 anos, casada há quase dez, mãe de dois.
E esses são os meus números hoje. Pelo menos por enquanto!
Como inspiração anda em falta por aqui, faço minhas as palavras da Ana Jácomo, tão
perfeitas palavras...

Eu tenho cada vez mais menos respostas, mas também tenho cada vez mais menos perguntas. Disso eu não duvido mais: tenho cada vez menos certezas. Quanto mais o tempo passa, eu fico menos à vontade para alimentar dores e com muito mais preguiça de sofrer. Quanto mais o tempo passa, menos faço por onde adiantar a morte, mais tento fazer por onde aproximar a vida. Os fios grisalhos da cabeleira também menina da minha alma dizem um viço que acende a vontade dos encantamentos de verdade. De verdade, entenda, é quando o encantamento realmente faz a gente sorrir.
Coisas que já me importaram à beça já não me importam nem um pouco, enquanto aquilo que essencialmente sempre teve importância me importa, agora, com mais nitidez. Como deve acontecer com outros tantos aprendizes da coragem, às vezes, cansadíssima das lições e do método pedagógico, eu recordo que a covardia, pelo menos na aparência, é bem mais fácil, bem menos trabalhosa, e, claro, bem mais egoísta, eu já estive lá com muito mais frequência. Mas aí, justo neste ponto, costuma acontecer algo bem bonito: também recordo de cada flor que veio à tona só porque tive coragem de cuidar da semente. Só porque não me acovardei, mesmo que tantas vezes com todo medo do mundo.
Para o novo ano, se eu conseguir ser nova, quero o sabor de saber, na prática, que somos feitos para a felicidade. Para a troca. Para a paz. Para a bondade. Para facilitarmos a existência uns dos outros. Para a coragem e a alegria de simplesmente ser. 
: Ana Jacomo :